D. Francisco de Assis Velarde y Romero
(D. Francisco de Assis Belard)
N. Cádiz, Catedral Velha (Espanha) em 1823, filho de D. Francisco Servando Velarde y Barcia (1766-?) e de sua mulher D. Margarita Romero, e descendente de uma das mais antigas famílias das Astúrias (v. A Ascendência de D. Francisco de Assis Velarde y Romero)
F. Lisboa, "na sua Quinta dos Marchaes, Alto da Boa Vista (Benfica)"[1] a 19/03/1892
Está sepultado em Lisboa, no Cemitério dos Prazeres, no jazigo da família Belard mandado construir em 1897 por sua segunda mulher D. Amélia Muller de Albuquerque y Castro
Casou 1ª vez na Ilha do Príncipe(?) antes de 1847 com D. Mariana Urbana de Senna Freitas (1828-antes 1865), filha de João Jacinto de Freitas e de sua mulher D. Libânia de Senna Freitas, de que teve vários filhos, sobrevivendo com descendência apenas dois:
- D. Margarida de Assis de Freitas Belard (1847?-1924)
- Francisco de Assis Belard Júnior (Paquito Belard) (1850-1892)
Casou 2ª vez em Lisboa (Conceição), a 7/02/1870, com D. Amélia Muller de Albuquerque y Castro (1847-1921), filha de António Muller Jr. e de sua 2ª mulher D. Maria José, de quem teve:
- D. Maria Amélia Muller Belard (1870-1952)
- João Muller Belard (1875-1935)
- D. Josefa Muller Belard (1877-1939)
- D. Lucinda Muller Belard (1878-1951)
- António Muller Belard (1880-1944)
- D. Joaquina Muller Belard (1881-1963)
Teve ainda uma filha natural, nascida e falecida em S. Tomé, quando estava viúvo do 1º casamento:
- D. Mariana da Silva Belard (1865-1867)
Refira-se que, no nome de D. Francisco de Assis Velarde y Romero, "Romero" era o apelido da mãe, que os espanhóis usam ainda hoje em último lugar, embora aos filhos transmitam, como nós, o apelido paterno. O pai dele, por exemplo, era "Velarde y Barcia". Daí que, aos filhos, D. Francisco não transmitiu o apelido Romero, mas Velarde, já na forma que usava desde que foi para São Tomé - "Belard".
Para ser mais fácil perceber como os diferentes Belards descendem de D. Francisco de Assis Velarde y Romero, pode consultar-se o diagrama seguinte (clique na imagem para abrir uma nova janela com o documento em pdf, mais legível):
D. Francisco de Assis Velarde y Romero foi muito novo para S. Tomé e Príncipe (por volta de 1841-43?), segundo tradição familiar por razões políticas, provavelmente no quadro da guerra Carlista que agitou a Espanha no segundo quartel do século XIX e da repressão durante as regências que se lhe seguiram[2]. Desde essa altura, e possivelmente pelas mesmas razões, passou a assinar "Belard" em vez de "Velarde", embora esta questão permaneça em aberto (v. neste site A origem do apelido Belard).
Ainda segundo a tradição familiar, D. Francisco terá ido de Cádiz primeiro para Cabo Verde, provavelmente via Lisboa. Para mim, o destino lógico para um espanhol que pretendia emigrar seria, na época, a América Latina, pelo que suponho que fosse esse o destino dele quando deixou Cádiz, e uma paragem em Cabo Verde não me parece logisticamente improvável; e como a sua primeira mulher, D. Mariana de Senna Freitas, era natural precisamente da Ilha Brava, em Cabo Verde, admito que se tenham conhecido aí. Parece-me mais lógico, também, que se tenham casado em Cabo Verde e não na Ilha do Príncipe, para onde devem ter ido já casados, mas faltam-me provas documentais para o confirmar.
Em S. Tomé começou uma fulgurante carreira comercial e agrícola, primeiro como agente da Companhia União Mercantil (de João Maria de Sousa e Almeida, barão de Água Izé), agência de que saiu em 1860, por a Companhia ter sido vendida a José Maria de Freitas, dedicando-se depois ao comércio por grosso de secos e molhados, com diversas lojas na cidade (Rua General Calheiros, Rua de Goês e Rua de Soares), na Trindade (Cima Cola) e em Santana.
A partir de 1855 lançou os fundamentos da grande roça Santa Margarida, constituída por 4 dependências - Santa Margarida, Pedra Maria e S. José, na Madalena, e Maianço, em Santo Amaro, com uma área total cultivada de 810 hectares.
É considerado um dos quatro introdutores da moderna (à época) agricultura em S. Tomé e Príncipe, juntamente com João Maria de Sousa e Almeida (o já referido e famoso barão de Água-Izé), Manuel José da Costa Pedreira e José Maria de Freitas.
No livro "Cocoa and chocolate, 1765-1914", de W. G. Clarence-Smith, 2000, o nome de D. Francisco Velarde é mesmo o único a que é dado destaque neste período, nos termos que transcrevo:
"Most traders on São Tomé island in 1872 had Portuguese names, and appear to have been mainly immigrants from Portugal, together with some 'sons of the land'. However, one of the foremost merchant-planters was a Spaniard, Francisco de Asis Belard (Velarde), who later drew the Spanish Mantero family to the colony."
Foi vice-cônsul de Espanha em São Tomé, membro da direcção da Sociedade Recreativa Perseverança, fundada em 1862, e grande benemérito da província.
Naturalizou-se cidadão português, por carta de 30/3/1892, facto de que não chegou a tomar conhecimento, pois a carta só foi assinada alguns dias depois da sua morte.
Morou em Lisboa na Travessa do Pombal[3], nº 51, e na Quinta dos Marechais, ao Alto da Boa Vista, em Benfica, quinta que comprou e onde faleceu.
Há um pequeno verbete sobre ele na "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira", que se reproduz aqui:
Retratos
[1] Nesta Quinta dos Marechais, que pertenceu a D. Francisco de Assis Velarde y Romero (Belard), viveu e morreu mais tarde, em 1923, a mãe de Fernando Pessoa...
[2] Uma dezena de anos antes tinha sucedido o mesmo ao pai do General António Joaquim Gomes da Fonseca, João Silvestre da Fonseca: combatente liberal, a subida ao trono português de D. Miguel em 1828 levou-o a exilar-se entre 1832 e 1834 em Espanha, mais concretamente em Cabezas Rubias, perto de Huelva, onde nasceu precisamente o seu filho António, que viria a ser genro de D. Francisco de Assis Velarde y Romero (Belard). Sendo o General Fonseca de uma família liberal, suponho que o sogro também o fosse; na época, estas opções políticas opunham violentamente as pessoas, e não acredito que D. Francisco de Assis Belard tivesse dado a filha em casamento ao então Tenente Fonseca se não estivesse em sintonia política com este.
[3] A Travessa do Pombal tinha este nome por aí ter morado o 3º Marquês de Pombal, segundo documentos de 1785 e 1804. Em 1880, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu homenagear o Marquês de Pombal (o 1º...) pela criação, em 1768, da Impressão Régia, hoje Imprensa Nacional, pelo que o Edital municipal de 29/12/1880 renomeou a Travessa do Pombal em Rua da Imprensa Nacional, nome que mantém até hoje.