A Roça Santa Margarida


Edifícios da Roça Santa Margarida, postal ilustrado de c. 1920

Edifícios da Roça Santa Margarida, postal ilustrado de c. 1920. Do blog STP ArquitectArte, 2012 (com os meus agradecimentos à Dra. Maria Leonor Godinho)


Mapa de S. Tomé, 1902

Mapa de S. Tomé, 1902. In Francisco Mantero, "Manual Labour in S. Thomé and Principe", 1910

Pormenor do Mapa de S. Tomé, 1902, com a localização da roça Santa Margarida

Pormenor do mesmo mapa, onde assinalei com uma seta vermelha a localização da roça Santa Margarida


Mapa de S. Tomé, 1958

Mapa de S. Tomé, 1958, com a indicação mais exacta da roça Santa Margarida. Do site www.tvciencia.pt, 2012 (com os meus agradecimentos à Dra. Maria Leonor Godinho)


Vista de satélite da roça Santa Margarida, 2012

Vista de satélite da roça Santa Margarida, 2012. Google Maps in www.nationsonline.org

Vista de satélite dos edifícios da roça Santa Margarida, 2012

Vista de satélite mais aproximada dos edifícios da roça Santa Margarida, 2012. Google Maps in www.nationsonline.org

A roça Santa Margarida foi fundada por D. Francisco de Assis Velarde y Romero (Belard) por volta de 1855. Foi uma das grandes explorações agrícolas de S. Tomé; era constituída por 4 dependências - Santa Margarida, Pedra Maria e S. José, na Madalena, e Maianço, em Santo Amaro, com uma área total cultivada de 810 hectares. Tinha, em 1870, um valor estimado de 18 contos de réis, aproximadamente equivalente a um milhão e meio de Euros actuais (2011).

A roça foi baptizada com este nome em alusão à filha de D. Francisco Velarde, D. Margarida de Assis de Freitas Belard (1847?-1924), que era adolescente quando o pai se começou a dedicar à agricultura.

Em 1869, D. Francisco de Assis Velarde y Romero (Belard) chamou para São Tomé o seu sobrinho, que mais tarde se tornou seu genro, D. Francisco Mantero (1853-1928), com o qual desenvolveu uma intensa actividade agrícola em Santa Margarida.

Segundo o Dr. Jorge Forjaz, In "Genealogias de São Tomé e Príncipe - Subsídios", 2011, a grande roça Santa Margarida foi herdada por D. Margarida Belard da Fonseca em 1892, após a morte do pai, embora este tivesse outros filhos, inclusivamente varões. Não tenho dados sobre o assunto; o que sei é que a roça Santa Margarida acabou por ser integrada na "Sociedade Agrícola Colonial", fundada por D. Francisco Mantero. Várias pessoas da família foram accionistas dessa sociedade, e algumas participaram activamente na direcção da mesma e na administração da roça Santa Margarida e das outras propriedades de que a sociedade era proprietária; mas a exploração da roça Santa Margarida passou a estar centrada no ramo Mantero da família.

Em 1893 é esta roça que dá o nome ao título de Visconde com que o Rei D. Carlos entendeu agraciar o antigo Governador de S. Tomé e Príncipe, General António Joaquim Gomes da Fonseca (1833-1904), marido de D. Margarida, os quais foram, assim, os 1ºs Viscondes de Santa Margarida.


Não existem, que eu saiba, fotografias da roça Santa Margarida contemporâneas de D. Francisco Velarde ou de sua filha D. Margarida Belard da Fonseca. As mais antigas que conheço estão publicadas na obra de Francisco Mantero, "Manual Labour in S. Thomé and Principe"; datam de 1895 e reproduzo-as aqui.

Linha de caminho de ferro privado na roça Santa Margarida

Linha de caminho de ferro privado na roça Santa Margarida. 1895. In Francisco Mantero, "Manual Labour in S. Thomé and Principe", 1910

Estação de carregamento de cacau na linha de caminho de ferro privado na roça Santa Margarida

Estação de carregamento de cacau na linha de caminho de ferro privado na roça Santa Margarida. 1895. In Francisco Mantero, "Manual Labour in S. Thomé and Principe", 1910

Um pouco mais tardia será a única imagem que conheço dos edifícios da roça Santa Margarida e que encima esta página. O livro "Genealogias de São Tomé e Príncipe - Subsídios", do Dr. Jorge Forjaz, publica também uma curiosa planta do Hospital da Roça Santa Margarida, que nos parece, pela planta, à altura dos melhores exemplos de hospitais de outras roças dos quais se conhecem fotografias, com duas enfermarias separadas, uma para homens, outra para mulheres, duas casas de banho também separadas, uma farmácia, um laboratório e outras dependências.

Planta do Hospital da Roça Santa Margarida

Planta do Hospital da Roça Santa Margarida. In Jorge Forjaz, "Genealogias de São Tomé e Príncipe - Subsídios", 2011

De qualquer forma, para se fazer uma ideia de como deveria ter sido a roça de Santa Margarida nos seus tempos áureos basta ver as fotografias das outras roças equivalentes e que se encontram publicadas, por exemplo, na citada obra de Francisco Mantero ou na edição ilustrada de "Equador", de Miguel Sousa Tavares, ou ainda no já referido blog STP ArquitectArte, 2012, que exibe uma curiosa colecção de imagens antigas de várias roças.

Do estado actual da roça, infelizmente, apenas sei o que vem neste link: Téla Nón - Nacionalização das roças e a reforma agrária. Como todas as outras roças, Santa Margarida foi nacionalizada após a independência de S. Tomé e Príncipe, sem grandes benefícios para os seus moradores, como se pode ver nesse site. Vale mesmo a pena ler o excelente artigo e os comentários ao mesmo para se ficar com uma ideia da actual (2011) situação das roças de São Tomé, e há alguns comentários curiosos que referem expressamente a roça Santa Margarida.

Também tem muito interesse uma página no Facebook, criada por dois arquitectos de Lisboa que estudam a arquitectura das roças de São Tomé, e que pode ser vista aqui: Inventar(iar) As Roças de São Tomé e Príncipe. Tem várias fotografias dos edifícios das roças de São Tomé (e que interessantes são algumas dessas casas!) no seu lamentável estado actual (2012). É pena que quando escrevo estas linhas ainda não exista aí nenhuma fotografia da roça Santa Margarida, mas é natural que vão aparecendo novos elementos. É uma página a acompanhar.

Finalmente, no blog Património de S. Tomé, um trabalho desenvolvido por um grupo de alunos do 12º ano do Liceu Nacional de S. Tomé e Príncipe, existem reproduções de vários postais antigos de São Tomé e centenas de fotografias actuais, a maioria de roças, mostrando bem a sua realidade presente. Pena que estas não estejam legendadas ou pelo menos identificadas...